O bilionário Eike Batista provou que continua atraindo grandes investidores globais para seus projetos. Depois de vender participação na holding EBX a um fundo árabe por US$ 2 bilhões, prepara a entrada de mais capital de fora
Por Tatiana BAUTZER
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Não foi rápida a negociação entre os bilionários Eike Batista e sheik Mohammed Bin Zayed Al Nayan, dos Emirados Árabes. O acordo para a venda de 5,6% da EBX, holding que reúne os negócios do empresário brasileiro, por US$ 2 bilhões, para o fundo Mubadala Development Company, demorou quase um ano para sair. Com o negócio, o fundo soberano de Abu Dhabi passa a ser acionista das cinco empresas listadas na bolsa e quatro fechadas controladas pelo empresário. “O investimento fortalece consideravelmente todo o grupo e sua habilidade de implementar projetos”, afirmou Batista, sétimo homem mais rico do mundo, com fortuna de US$ 33,5 bilhões.
Destino para o dinheiro não falta: com planos de investir inéditos US$ 50 bilhões nos próximos dez anos, a prioridade do dono da EBX é desenvolver as minas de ouro da empresa AUX e os ativos imobiliários da REX, além da criação de uma empresa de fertilizantes. As oscilações na economia internacional e a longa verificação de contas feita na EBX, que controla empresas de petróleo (OGX), mineração (MMX), energia (MPX), logística (LLX) e construção naval (OSX), contribuíram para a demora no fechamento do negócio. É o primeiro investimento na América Latina do Mubadala, um fundo modesto para os padrões do Golfo Pérsico, com patrimônio de US$ 27,6 bilhões.
Mesmo pequeno, o fundo é a menina dos olhos do sheik Zayed Al Nayan, e considerado um veículo de sua fortuna pessoal entre executivos de fundos soberanos. Al Nayan, aplica os recursos em empresas aeroespaciais, de energia, telecomunicações e TI. Investe até em hospitais e universidades, como as filiais da Cleveland Clinic e da francesa Sorbonne nos Emirados. Ao mesmo tempo, mantém parcerias com empresas gigantescas como a GE, Boeing e o fundo Carlyle. O aporte da semana passada é apenas a primeira etapa de uma operação para cacifar Batista em até US$ 4 bilhões. O empresário admite vender outra fatia da holding por US$ 1 bilhão. Segundo pessoas que acompanham o assunto, outros candidatos podem fechar negócio em breve.
O trabalho de ‘due diligence’ já feito pelo Mubadala será usado na negociação com outros. “Daqui para a frente, o desfecho será mais rápido”, diz uma fonte. Especula-se que um dos investidores seria o Abu Dhabi Investment Authority (Adia), do mesmo emirado, que é o maior fundo soberano do mundo, com patrimônio de US$ 627 bilhões. Eike nega estar negociando com o ADIA. Mais do que nunca, a extensa rede de contatos de Eike Batista no Exterior será útil. “O Eike se estabeleceu fora do País como a principal porta de entrada em novos projetos no Brasil”, afirma um banqueiro de investimentos. E o Oriente Médio, com os cofres reforçados pela alta do petróleo, deve ser uma boa fonte de recursos.
“Os fundos da região já têm grandes investimentos na Ásia e não há bons rendimentos nos países desenvolvidos”, afirma o diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino. Como o maior ativo da EBX é a petrolífera OGX, Batista comemorou a entrada do Mubadala como uma chancela ao seu plano de negócios. Criticada por demorar em cumprir as promessas, a OGX produz petróleo desde janeiro – 12 mil barris por dia hoje – e fez a primeira entrega para a Shell na semana passada. Associar-se a estrangeiros é uma estratégia recorrente de Batista. O fundo de pensão canadense Ontario Teachers Pension Plan, um dos primeiros investidores institucionais de países desenvolvidos a entrar no Brasil, investe na LLX desde sua criação.
Batista também se vale de parcerias com investidores estratégicos, que, além de recursos, trazem um aval aos projetos de suas empresas. O exemplo mais recente é o da alemã E.ON., maior geradora de energia da Alemanha, que fechou, em janeiro, um acordo para operar usinas termoelétricas com a MPX (ver quadro). “Convencer uma empresa importante mundialmente no setor dá mais confiança ao mercado”, afirma o sócio da gestora carioca Queluz, Mauricio Pedrosa. É melhor mesmo reforçar a confiança enquanto os resultados não aparecem. No ano passado, o prejuízo das cinco empresas de capital aberto da EBX dobrou, para R$ 1 bilhão. Batista diz que as perdas em empresas pré-operacionais durante a fase de investimento são “comuns”.
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