Juntas, Gol e TAM tiveram prejuízo de mais de R$ 1 bilhão em 2011. Como explicar o rombo em um País onde nunca se voou tanto?
Por Marcio ORSOLINI e Marcelo CABRAL
As companhias aéreas brasileiras vêm enfrentando dificuldade para fazer seus lucros decolar. Na semana passada, a divulgação dos balanços anuais escancarou os problemas do setor. A Gol encerrou 2011 com prejuízo de R$ 751 milhões, enquanto a TAM registrou perdas de R$ 335 milhões. Os dados mostram o paradoxo que afeta a aviação comercial no Brasil: o número crescente de passageiros ainda não é suficiente para assegurar a rentabilidade das empresas. No ano passado, o setor transportou 161 milhões de pessoas, um recorde em sua história. O maior problema está ligado ao aumento dos custos, que não tem acompanhado pelo preço das passagens.
Gol contra: dívidas de R$ 311 milhões da Webjet pesaram no resultado da Gol, de Constantino Jr. (à esq.)
Custos menores: união com a LAN pode reduzir gastos da TAM, liderada por Marco Antônio Bologna (à dir.)
Há 30 anos, o barril de petróleo, por exemplo, custava US$ 3, e hoje gira acima dos US$ 100. Os gastos com combustível já representam hoje mais de 30% das despesas e a tendência é que esse patamar continue subindo. A instabilidade no câmbio também prejudica os pagamentos de aluguéis e prestações de aeronaves, que são feitos em dólar. Nessa equação, já desfavorável, entra ainda em cena a guerra tarifária registrada entre TAM e Gol que juntas detêm mais de 80% do mercado nacional – para aproveitar a onda de consumo da nova classe média. A estratégia foi considerada um tiro no pé que prejudicou todo o mercado. Para Ozires Silva, ex-presidente da Embraer e da Varig a situação chegou a tal ponto que a própria viabilidade das empresas aéreas passou a ser questionada.
“A equação não está funcionando”, afirma (veja entrevista completa aqui). Diante do quadro negativo, uma das alternativas é a busca de nichos de atuação. A Avianca, por exemplo, quer crescer a partir dos clientes com maior poder aquisitivo. “Minha prioridade é ganhar rentabilidade por passageiros”, afirma seu presidente, o boliviano naturalizado brasileiro José Efromovich. O objetivo é fidelizar os clientes a partir de serviços de bordo exclusivos e atendimento diferenciado, como maior espaço entre as poltronas, refeições quentes servidas em todos os voos e um sistema de entretenimento que inclui televisores individuais nas aeronaves mais modernas.
Por enquanto, a estratégia parece estar funcionando. Embora a Avianca ainda registre prejuízo, a intensidade do vermelho nos números vem diminuindo. Em 2008, as perdas chegaram a quase R$ 600 milhões; no ano passado, ficaram em menos de 10% desse valor. Para reduzir os custos, o setor vem passando por uma consolidação mundial. Exemplos desse processo são a união da holandesa KLM com a francesa Air France e o das americanas Delta e Northwest. No mercado brasileiro, a movimentação se refletiu na união entre a TAM e a chilena LAN, além da compra da Webjet pela Gol. Uma saída apontada por especialistas é que as empresas absorvam a totalidade da comercialização das passagens.
Hoje, elas vendem bilhetes através de seus sites na internet ou balcões, mas uma parcela significativa ainda é revendida por agências de viagens. Outra oportunidade vem do transporte de cargas. A contribuição desse segmento para as receitas ainda é marginal, chegando no máximo a 4%. Esses valores podem aumentar significativamente caso as companhias adotem estratégias para agregar valor à carga, optando pelo transporte de produtos como medicamentos e componentes de computadores. “Falta uma estratégia mais clara de rentabilização do setor”, diz Paulo Cury, sócio-fundador da consultoria Condere.
Embora a situação seja difícil, o quadro ainda não é crítico, segundo analistas. “É um setor tradicionalmente difícil em todo o mundo, mas as companhias brasileiras têm mostrado uma boa gestão”, diz Luis de Lucio, sócio-diretor da consultoria Alvarez & Marsal, que participou de reestruturações como as da Varig e da Parmalat. “É preciso olhar a geração de caixa e ver a rentabilidade da malha, custos com funcionários e serviços de bordo.” Seguindo esse conselho, a Gol vai cortar entre 80 e 100 voos diários, diminuindo o quadro de funcionários. O desafio, nesse cenário, é manter a qualidade dos serviços aos passageiros.
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