Estudo
do Instituto Internacional de Gerenciamento de Água (IWMI) revela que, a partir
de 2030, serão necessários mais 2 mil km³ de água por dia para alimentar a
população mundial. O volume é 25% maior do que o usado atualmente. Não é à toa
que, assim como o petróleo, a água é apontada neste século como um insumo
fundamental para a economia global e vem se tornando uma mercadoria cada vez
mais valiosa. Trata-se de um mercado estimado em US$ 350 bilhões, montante que
deverá crescer 4,7% ao ano e atingir US$ 530 bilhões anuais, em
2016.
Na
ânsia de matar a sede do mundo, crescem, por exemplo, os negócios ligados
diretamente à dessalinização de águas oceânicas. Estima-se que até
2016 a
capacidade global de produção de água doce diária por meio da extração do sal
deva alcançar 106,6 milhões de metros cúbicos por dia, contra 42,7 milhões de
metros cúbicos registrados em 2007. E as oportunidades para novos
empreendimentos não param por aí. Ao contrário do passado, têm grandes chances
de dar certo nesse mercado quem conseguir transformar estudos - antes fechados
nos laboratórios de pesquisa das universidades - em ferramentas a favor da
diminuição do consumo e aumento do reúso da água, além de redução de perdas com
a imprevisibilidade do clima em setores importantes como energia, agronegócio e
petróleo.
Foi
o que fez o oceanógrafo Daniel Ruffato, 27 anos, e seus sócios, ao fundarem em
2010, no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), a Salt
Ambiental, especializada em consultoria e suporte a empresas que atuam em
ambientes lacustres e marinhos. Em pouco tempo, eles conquistaram clientes como
a Petrobras, Shell e Queiróz Galvão. Mas, ao contrário do que se podia imaginar
no início, o carro-chefe da empresa passou a ser os aplicativos desenvolvidos
para facilitar o processamento e a apresentação de dados oceânicos em trabalhos
de campo. O mais inovador é o Ocean DB, projetado para smartphones, tablets e
computadores que usam sistema Android. O aplicativo fornece parâmetros
oceanográficos, como temperatura, salinidade, oxigênio dissolvido na água e
frequência de empuxo. "Foi um ano de estudo até concluir o projeto, mas estamos
em condições de oferecer as médias climáticas desde a superfície até o fundo de
todos os mares e oceanos do mundo", afirma Ruffato. Lançado no início de abril,
com acesso gratuito, o aplicativo registrou nos primeiros 30 dias 100 mil
downloads. O empreendedor observa, contudo, que o Ocean DB é um projeto em
andamento, que deve evoluir para uma plataforma de gerenciamento de dados em
tempo real, para auxiliar no planejamento e operações de monitoramento de
emergências ambientais.
Com
faturamento estimado de R$ 600 mil para este ano, a Salt Ambiental projeta
investir, ainda, na divulgação de dois de seus produtos: a garrafa Van Dorn, que
coleta água do mar em qualquer profundidade por meio de um dispositivo mecânico,
já encomendada pelo Instituto Oceanográfico; e a modelagem numérica para simular
cenários, ondas, marés, nível dos oceanos, correntes, níveis de dispersão de
poluentes e transporte de sedimentos. "Trabalhamos de forma interdisciplinar na
análise de todos os lados, o que traz à Salt um diferencial no mercado", observa
Ruffato.
Atenta
à movimentação que a descoberta da camada do pré-sal provocou - só a Petrobras
deverá investir US$ 33 bilhões na exploração de petróleo no litoral brasileiro
até 2014 - a carioca Aquamet mudou o rumo dos seus negócios, depois de uma
encomenda feita pela própria Petrobras, em 2008. "Eles estavam atrás de alguém
que fizesse projeções de longo prazo para o clima nos mares da costa
brasileira", lembra Ricardo
Silva , 38 anos, sócio da Aquamet. Como a petrolífera já era
cliente, eles resolveram investir. Desde, então, a empresa cresce a uma média de
15% ao ano, devendo faturar em 2012 cerca de R$ 2 milhões.
A
prestação de serviços de monitoramento marítimo capaz de dar à Petrobras
informações sobre como agir em situações de emergência, como vazamento de óleo
causado por problemas nas plataformas ou nos navios petroleiros, levou a Aquamet
a desenvolver um aplicativo que incorpora tanto previsões meteorológicas quanto
oceânicas, incluindo temperatura do mar, correntes e ondas. Lançado em janeiro
desse ano, a novidade tem chamado a atenção não só dos tradicionais clientes de
logística portuária e petroleiros, como de estaleiros internacionais, segundo
Silva. "O próximo passo será desenvolver equipamentos para captação de dados no
mar; por enquanto só se trabalha com fotos de satélite",
adianta.
Quem
também surfou na onda do pré-sal foi o oceanógrafo Manlio Fernandes Mano, 37
anos, que colou no mercado uma proposta alternativa e mais barata do que a
prospecção de áreas a serem exploradas para extração de petróleo. O que antes
era feito exclusivamente com o auxílio de um navio, a um custo médio de R$ 150
mil por dia, hoje pode ser feito em qualquer parte do mundo, sem sair do Rio de
Janeiro e independentemente das condições climáticas. Uma exclusividade da start
up criada por Mano, batizada de Oilfinder, com sede no Rio de
Janeiro.
Mano
desenvolveu um sistema de processamento e modelagem de imagens obtidas por
satélite capaz de identificar a origem e a trajetória de vazamentos naturais de
óleo antes da mancha chegar à superfície. "É algo extremamente novo", diz Mano.
"Um projeto completo custa R$ 250 mil por dois meses. Com o navio, leva-se o
dobro do tempo e o custo é por dia". O primeiro cliente foi a Petrobras, mas o
empreendedor projeta grande crescimento, graças aos leilões das áreas de
perfuração de petróleo que serão exploradas nos próximos cinco anos. Este ano o
faturamento deve chegar a R$ 2 milhões, com previsão de dobrar até
2013.
Fonte:
Valor Econômico/TN Petróleo
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