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quarta-feira, 11 de abril de 2012

O golpe de mestre da UFC


Saiba como o lutador Vitor Belfort quer transformar a modalidade de artes marciais que mais cresce no mundo em um negócio bilionário no País.

Por Rosenildo Gomes FERREIRA e Marcio ORSOLINI
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Confira a entrevista com o editor-assistente de negócios da DINHEIRO, Rosenildo Gomes Ferreira
 
Em 2001, o carioca Vitor Belfort fez uma das maiores apostas de sua vida ao investir quase todas as suas economias na Nasdaq, a bolsa eletrônica na qual são negociados os papéis de empresas de tecnologia dos Estados Unidos. Sofreu um nocaute técnico quando a bolha da internet estourou, logo depois, e quase foi à lona no primeiro round de sua vida financeira. “Perdi muito dinheiro,” diz Belfort, sem revelar o montante. Lutador experiente, que conquistou aos 19 anos o primeiro título mundial do MMA (sigla de artes marciais mistas, em inglês), acostumado a aprender até com a derrota, Belfort lembra que o nocaute financeiro  lhe deixou algumas lições preciosas. 

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Vitor Belfort, o CEO da UFC: "Sempre administrei minha carreira
como se fosse uma empresa"
 
A principal delas foi a de jamais aplicar o dinheiro ganho em combates e nos contratos de patrocínio, cerca de US$ 5 milhões por ano, de acordo com estimativas do mercado, em setores nos quais não possua um mínimo de conhecimento. Hoje, aos 35 anos, com 23 títulos no currículo, ele começa a preparar o terreno para assumir a carreira empresarial em tempo integral. Com isso, terá fim a rotina de desferir socos, cabeçadas e chutes, até finalizar – golpe que imobiliza o oponente, forçando-o a desistir da luta – os adversários no octógono. “Sai o lutador e entra em cena o CEO da UFC”, afirma. O MMA atualmente é uma verdadeira máquina de fazer dinheiro. A Ultimate Fighting Championship (UFC), principal promotora desse tipo de evento no mundo, possui um valor de mercado estimado em US$ 1 bilhão.  
Atingiu esse patamar graças à grande penetração da modalidade, cujas lutas são transmitidas para um bilhão de residências em todo o planeta. Foi isso que despertou o apetite de potências do mundo dos negócios, como a fabricante de motocicletas Harley-Davidson, a emissora Fox e a Budweiser, a cerveja mais vendida nos EUA. No Brasil, a lista não é menos portentosa: a filial da Procter & Gamble (P&G), a operadora de tevê por assinatura Sky e a Rede Globo são algumas das que se associaram ao MMA. É com esse novo público que Belfort pretende ter um contato mais próximo daqui para a frente. Sua missão: transformar a modalidade no segundo esporte mais popular do Brasil, atrás apenas do futebol. Na cena global, o MMA já desponta como o terceiro esporte mais popular, perdendo para o futebol e a para a Fórmula 1. 
No Brasil, a cada semana ele ganha a adesão de um contingente cada vez maior de fãs.  Isso pode ser medido pelo crescimento do número de praticantes de MMA e de academias que estão oferecendo a modalidade nas principais cidades do País. Hoje, existem 300 atletas profissionais. Boa parte desse fenômeno se deve ao campeão mundial dos pesos médios Anderson Silva, considerado “o rosto do MMA”. Até 2010, ele era um desconhecido do público brasileiro. Mas a partir de fevereiro 2011, quando venceu o próprio Belfort, aplicando-lhe um chute certeiro no rosto em uma luta memorável,  em Las Vegas, sua popularidade cresceu estratosfericamente. Hoje, ele é um popstar do quilate de um Neymar, o camisa 11 do Santos e da Seleção Brasileira.  
Sua participação  em programas de tevê é disputada a tapas, pois a simples presença do atleta mexe com os índices de audiência – para cima, é claro. Sua carreira é administrada pela agência  9ine, de Ronaldo Fenômeno, a mesma que cuida da vida profissional de Neymar. O rol de patrocinadores mudou também de patamar. Transformado num dos queridinhos dos anunciantes, Silva é o único atleta da categoria patrocinado pela americana Nike. Nos últimos meses, ele dividiu seu tempo entre treinos, lutas no octógono e uma série de comerciais para tevê. Como garoto-propaganda, estrelou comerciais para empresas do naipe da Ford, Burger King, Honda Motos e Budweiser, que renderam 413 inserções na tevê em 2011 e 97 no primeiro trimestre de 2012, de acordo com o boletim Controle da Concorrência, publicado pela consultoria paulistana FW Comunicação e Marketing. 
 
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 Se Silva é uma espécie de Pelé para o MMA, Belfort será o cartola encarregado de aumentar o número de adeptos e aficionados pelo esporte. Sua transição de lutador para homem de negócios começou a ser planejada em 2010, quando se mudou para Las Vegas com a mulher, Joana Prado, e os três filhos. A cidade abriga a sede da UFC. Nesse período, Belfort intensificou a leitura de livros sobre negócios e passou a acompanhar palestras do bilionário americano Warren Buffett, dono da Berkshire Hathaway. No Brasil, seu principal guru é o empresário Eike Batista. “Para crescer e aumentar minha influência na categoria, tinha de estar perto do centro de decisões,” diz Belfort. A opção se mostrou acertada. O todo-poderoso Dana White, CEO e sócio da UFC, viu nele o executivo ideal para ajudá-lo a abrir caminho no Brasil e o encarregou de atuar como o porta-voz da UFC por aqui.  
“O Vitor sempre foi um grande embaixador do esporte”, afirma White. “Não poderia pensar em ninguém melhor para trabalhar conosco.” (leia entrevista ao final da reportagem) Foi Belfort, por exemplo, quem fez a ponte entre a  Sky e a UFC. “White e seus sócios estimulam as pessoas a gerar negócios e estão sempre dispostos a ouvir sugestões”, diz Belfort. O contrato final para a transmissão das lutas foi negociado pela IMX, controlada por Batista e promotora oficial das lutas da UFC no País. Para se relacionar com as empresas e gerenciar a carreira de atletas, Belfort criou a Vitabel, cujo destaque no portfólio é o lutador César Mutante, e a Kyvida Marketing Esportivo. O crescimento no número de negócios que gravitam em torno da UFC é fruto direto do trabalho desenvolvido por White, ex-empresário de lutas de boxe, e pelos irmãos Frank e Lorenzo Fertitta, herdeiros de cassinos em Las Vegas.  
Em 2001, eles pagaram US$ 2 milhões para assumir o controle da UFC, criada pelo brasileiro Rorion Gracie, em 1993, mas que se encontrava em decadência por ser identificado como sinônimo de vale-tudo. Hoje, essa imagem vem perdendo força, graças à adoção de um manual com regras rígidas de conduta para os lutadores. Com isso, a UFC ganhou musculatura. As lutas, que começaram nos EUA, no Canadá e no Japão, chegaram ao Brasil em 2011. Até junho, White espera levar o espetáculo para a Suécia e Índia. O rápido avanço do esporte atraiu a atenção de investidores de peso, especialmente no Brasil. A Rede Globo é uma das que estão apostando alto no MMA. No fim de 2011, a  emissora pagou R$ 18 milhões para tirar a atração da Rede TV!, que lançara a UFC no País.  
O acordo prevê a transmissão de seis lutas neste ano, sendo três delas realizadas no Brasil. Além disso, a Globo está exibindo o reality show The Ultimate Fighter – Em Busca de Campeões, mais conhecido pela sigla TUF. São duas equipes de lutadores treinadas por Belfort e por seu velho adversário Wanderlei Silva. Desde sua estreia, no domingo 25 de março, o programa semanal manteve a média de 11 pontos no Ibope. De acordo com a direção da Globo, esse número representa um incremento de 10% para o horário. O vencedor receberá como prêmio um contrato com a UFC no valor estimado de R$ 100 mil. A final acontece em 23 de junho, durante o UFC 147, no estádio Engenhão, no Rio. Uma das atrações da noite será a revanche entre Belfort e Wanderlei. Na última vez que eles se enfrentaram, em 1998, Belfort  levou a melhor. 
 
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O evento é visto como um importante passo para a consolidação da modalidade no Brasil. Isso porque pela primeira vez uma luta  será realizada em um estádio de futebol, com público estimado em quase 50 mil pessoas. Até agora, os combates vinham sendo realizados em arenas montadas em casas de espetáculo. A mudança é proporcional ao avanço do MMA, tanto no aspecto esportivo quanto de geração de negócios. Uma boa medida está nas vendas de cerca de 500 produtos licenciados com a marca UFC, que atingiram US$ 140 milhões, em 2011, no Brasil. “Trata-se de um recorde na América Latina”, diz Marcus Macedo, CEO da Exim Licensing, que representa a UFC na região e possui licenças de personagens dos estúdios DreamWorks, como o ogro Shrek. “Até então, nenhuma marca ou personagem havia atingido esse volume de recursos em um tempo tão curto”, afirma Macedo.  
Agora, ele está trabalhando na comercialização de licenças da marca TUF, usada no reality show. “Serão roupas e acessórios mais populares, que serão vendidos até mesmo em supermercados.” Vincular o nome ao UFC vem se mostrando uma boa estratégia para empresas dos mais variados segmentos e tamanhos. É o caso da P&G. Para alavancar o desempenho do desodorante Gillette no Brasil, a empresa decidiu patrocinar o TUF. Desde janeiro, as vendas deram um salto de 30%. O êxito da estratégia fez com que a P&G procurasse a direção da UFC, nos EUA, para firmar um novo contrato, fechado em março, para fazer promoções nos pontos de venda do Brasil, criar embalagens especiais e distribuir brindes, como camisas da UFC. “Estamos destinando 10% de nossa verba de marketing para a modalidade”, afirma Fernando Souza, gerente de marketing da Gillette, sem revelar os valores.  
Outra que está colhendo frutos com o esporte é a Sky. O Combate, seu canal de lutas, encerrou março com 202,2 mil assinantes, um salto de 54% em relação ao mesmo pe-ríodo de 2011, de acordo com Marcelo Miranda, diretor de marketing da Sky. Até mesmo empresas de médio porte aderiram à febre das lutas de MMA. Uma delas é a Forcefield, fundada em 2005 pela empresária paulistana Nathalie Mikellides, fabricante de protetores bucais. No início de fevereiro, ela foi procurada pela Rede Globo para fornecer o equipamento aos integrantes do reality show TUF. “Nossas vendas crescem 20% ao mês”, diz Nathalie. “Muitas pessoas pedem moldes semelhantes aos dos lutadores do programa.” Outro empreendedor que está aproveitando a popularidade do MMA no País é Artur Regen, sócio e diretor-executivo da Marc4. 
 
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Impulso: para acelerar a performance do desodorante Gillette, Souza,
diretor da P&G, associou o produto ao MMA. Resultado: em três meses
as vendas cresceram 30%.
 
Regen fabrica 310 itens com a marca UFC, entre roupas e acessórios (luvas e sacos de treinamento, por exemplo), presentes em dois mil pontos de venda no País. Agora, a Marc4 está investindo R$ 1 milhão em novas linhas. Quem também viu nesse filão uma boa chance de ganhos foi o empresário paulistano Ruy Drever. Praticante de muay thay, ele abriu a primeira loja-conceito do País dedicada exclusivamente à venda de produtos com a grife UFC e que inclui até mesmo um octógono para treinamento dos 12 atletas patrocinados pela Pretorian. O negócio ocupa um prédio de quatro andares na rua Oscar Freire, uma das maiores concentrações de grifes de luxo por metro quadrado de São Paulo. Algumas dessas empresas também integram a lista de patrocinadores de Belfort, que, apesar de ser um veterano do octógono, ainda é uma referência na modalidade.  
O Banco BMG, um tradicional investidor no futebol, está com ele desde 2007.  “O retorno dos times de futebol é de cinco vezes, em média, em relação ao valor do investimento em marketing”, diz  Márcio Alaôr, vice-presidente do BMG. “Com Belfort, essa taxa é de nove vezes.” A relação de apoiadores de Belfort inclui ainda a Sky, a Gillette, e a Rvca, fabricante de material esportivo. Além disso, ele é sócio da Bony Açaí, criada pelo empresário paraense Bony Monteiro. Os produtos são fabricados pela Arbor Brasil, cuja marca mais conhecida é a cerveja Therezopolis. Monteiro é um dos sócios da Arbor. A distribuição do Bony Açaí, em versões lata e caixinha, começou a ser feita no fim de 2011, no Rio.  
A meta é estendê-la aos demais Estados até o fim do ano. No mercado internacional, o Bony Açaí já está nas gôndolas de supermercados dos EUA, da Arábia Saudita, da Coreia do Sul e da Austrália. “Queremos que o açaí seja reconhecido mundialmente como um energético natural”, diz Monteiro. A ambição de Belfort é construir uma trajetória no mundo dos negócios semelhante à sua atuação no octógono. Para ajudar nessa tarefa, ele assinou contrato com a paulista XYZ, da área de promoções de eventos. “Entre os lutadores brasileiros, sou o mais preparado para assumir o papel de CEO porque sempre administrei minha carreira como se fosse uma empresa”, finaliza Belfort. 
 
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“O MMA não é um esporte violento”
 
Dana White, o CEO da Ultimate Fighting Championship (UFC), diz que o Brasil se tornou o maior mercado da modalidade fora dos Estados Unidos. Acompanhe os principais trechos da entrevista concedida à DINHEIRO:
 
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O MMA é acusado de ser um esporte violento. Como o sr. reage a esse tipo de crítica?
Essa imagem está ultrapassada. O MMA é um esporte técnico, com lutadores disciplinados, treinados e totalmente preparados para o octógono. O MMA e o boxe são os únicos esportes regulamentados pelo governo americano. Em 19 anos aconteceram mais de duas mil lutas e nunca tivemos uma lesão séria na UFC. Nenhum gestor de outro grande esporte de contato pode dizer o mesmo. Até em 
eventos de cheerleading (exibição de chefes de torcidas) acontecem acidentes graves. 
 
Qual é o potencial de negócios que podem ser gerados pela modalidade no Brasil?
Não costumo abrir os números envolvidos nesse negócio, porque somos uma empresa de capital fechado. Mas é inegável que o MMA é um grande sucesso no Brasil. O País está roubando do Canadá a condição de segundo maior mercado do mundial da categoria. Nunca vi torcidas tão animadas como as dos eventos realizados no Brasil. 
 
Quanto a temporada 2012 da UFC deve movimentar, em termos de audiência de tevê, por exemplo?
Já somos os maiores provedores do sistema pay per view no mundo. No ano passado, vendemos 200 mil pacotes de lutas, a um custo médio de US$ 251. 
 
O que, na sua opinião, explica o sucesso mundial da UFC?
A luta é uma atividade universal. Está no DNA das pessoas. Além disso, quando alguém vai a um evento fica hipnotizado e se torna um fã, pois se trata do mais excitante esporte do mundo. Eu penso que o MMA é o melhor esporte para se assistir ao vivo. 
 
O MMA está presente em diversos países. O sr. pensa em levar as lutas para a Europa, por exemplo?
Sim. Hoje a programação já está disponível, via tevê, em mais de 150 países, em 22 línguas. Estamos deslanchando na Índia e acabamos de assinar com a Fox um acordo para transmitir as lutas para a Ásia. Até o fim de abril, teremos uma luta na Suécia. A procura foi tamanha que os ingressos se esgotaram em apenas três horas. Nossos próximos alvos são a Noruega e a Dinamarca. Também estamos de olho nos países do Leste Europeu. 
 
O sr. virá ao País, em junho, para assistir ao UFC 147?  
Claro, eu nunca perco uma luta. Sem dúvida, será o maior evento esportivo do ano. Não só de MMA, mas de todas as modalidades. Todos querem assistir à luta de Anderson Silva contra Chael Sonnen, sem contar a revanche entre Vitor e Wanderlei Silva.Será uma ocasião especial e os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil.  

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