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quarta-feira, 11 de abril de 2012

O drama de Abilio


A três meses de deixar o comando do Pão de Açúcar, o empresário ainda busca, insistentemente, uma saída para não ser carta fora do baralho no varejo brasileiro.

Por Ralphe MANZONI Jr. e Tatiana BAUTZER
O empresário francês Jean-Charles Naouri, CEO da rede varejista Casino, tem pressa. Com dois meses de antecedência, ele notificou, na quarta-feira 21, Abilio Diniz, seu sócio no grupo Pão de Açúcar (GPA), que vai exercer a opção de comprar uma ação do brasileiro por R$ 1, em 22 de junho. Dessa forma, terá maioria na Wilkes, holding que controla a GPA, maior rede de varejo do Brasil, com vendas brutas totais de R$ 52,6 bilhões em 2011. O rito era esperado pelo mercado, mas a urgência do comunicado, que podia ter sido feito até 22 de maio, surpreendeu a todos. “Tal decisão demonstra mais uma vez o compromisso de longo prazo do Casino com o Brasil e a sua plena confiança no futuro brilhante do GPA e em seu extraordinário time de executivos”, diz o texto, enviado a Diniz.
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Data fatídica: em 22 de junho, o Casino assume o controle do Pão de Açúcar. Mas Abilio Diniz
ainda não jogou a toalha.
 
A iminência da transferência do controle, ao que tudo indica, não significa que Diniz venha a jogar a toalha e desistir de lutar para não ser carta fora do baralho no varejo brasileiro. Desde que anunciou o seu projeto de fusão com  o Carrefour, o arquirrival francês do Casino,  no final do primeiro semestre do ano passado, ele busca, insistentemente, uma saída para não chegar ao fatídico dia 22 de junho de mãos abanando. Muitas propostas estão na mesa, de acordo com diversas fontes ouvidas por DINHEIRO. As negociações estão sendo conduzidas por Pérsio de Souza, da butique de investimentos Estáter, pelo lado de Diniz, e por Ricardo Lacerda, do banco de investimentos BR Partners, que defende os interesses de Naouri.  
As reuniões acontecem, geralmente, a cada 15 dias. “O acordo não precisa ser fechado até o dia 22”, diz uma fonte próxima a Diniz. Lacerda tem dito a Diniz e a seus assessores que o interesse do Casino não é fazer grandes mudanças na administração do Pão de Açúcar. “A gestão é eficiente e o planejamento reflete a visão estratégica do Casino para a empresa brasileira”, diz uma fonte ligada a Naouri. O maior interesse do grupo francês seria consolidar a operação do Pão de Açúcar em seu balanço, para melhorar os indicadores financeiros. Desconfiado, Diniz exige uma espécie de “acordo de separação” para o caso de a rede francesa não cumprir o seu compromisso. Na semana passada, a divulgação de uma lista de nomes para suceder a Eneas Pestana, homem de confiança de Diniz, na presidência do Pão de Açúcar, considerada apócrifa pela assessoria do Casino, não colaborou para apaziguar os ânimos. 
 
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Quase lá: Naouri já avisou a Diniz que vai assumir o controle
do Pão de Açúcar em junho.
 
“Não haverá substituição do Eneas, que é bem avaliado pelos franceses”, diz outra fonte ligada ao Casino. Até agora, Diniz fez algumas propostas que foram rejeitadas por Naouri. A primeira delas seria ficar com as lojas que estão instaladas em imóveis de sua propriedade. A segunda foi assumir a rede de hipermercados Extra, alegando que o Casino poderia abrir mão do negócio, já que considera o modelo de grandes lojas decadente. A terceira alternativa, que Diniz ainda tenta emplacar, seria incorporar a  ViaVarejo (ex-Globex), a subsidiária de eletroeletrônicos que consolidou as operações da Casas Bahia.O desenho proposto por Diniz, segundo uma pessoa que acompanha de perto o assunto, seria a separação da ViaVarejo do GPA.  
Diniz, então, trocaria suas ações no Pão de Açúcar pelas da ViaVarejo. “É uma solução difícil”, diz outra fonte ligada a Diniz. Um grande complicador para essa alternativa seria o próprio compromisso assumido por Naouri com seus acionistas, quando defendeu a compra da Casas Bahia, em dezembro de 2009, como uma boa aposta, no longo prazo, no Brasil. Também seria difícil justificar por que o grupo francês abriria mão da cláusula de não competição assinada por Diniz no acordo de acionistas de 2005. “Naouri não iria jogar sua carreira fora só para não ter o Abilio por perto”, diz uma fonte. A última proposta, e menos desejada pelo empresário brasileiro, seria um acerto em dinheiro pela sua participação. A negociação que envolve a ViaVarejo sofre também forte resistência da família Klein, que já passou pela experiência de renegociar os termos da fusão da Casas Bahia com o Pão de Açúcar alguns meses depois de fechar o negócio.  
Michel Klein, presidente do conselho da ViaVarejo, se encontrou pelo menos duas vezes com Naouri, em Paris, segundo fonte de sua intimidade. Nesses encontros, Klein manifestou seu propósito de continuar no negócio e discutiu com o executivo francês as intenções do Casino para as operações no Brasil. Até as calçadas da avenida Champs-Élysées  sabem que não são nada amistosas as relações entre os Klein e Diniz. “Elas são societárias e profissionais”, diz a mesma fonte próxima a Klein. Em tese, a família Klein, como minoritária, com 47% das ações da ViaVarejo, tem pouco poder de fogo para impedir a negociação. Mas pode complicá-la, questionando, por exemplo, o valor atribuído à empresa numa eventual troca de ações. “ Os Klein  dificilmente deixarão o negócio”, diz a fonte. 
 
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