O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto defende a mudança no cálculo da rentabilidade da poupança de modo a abrir caminho para a redução de juros.
Por Carla JIMENEZ
O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto defende a mudança no cálculo da rentabilidade da poupança de modo a abrir caminho para a redução de juros. Isso porque a tradicional caderneta tem um piso de rendimento, de 6% ao ano mais TR, o que limita a ação do governo de manter a rota descendente da taxa Selic. Delfim não tem caderneta, ‘porque fazer poupança é ser roubado’.
DINHEIRO - Por que e como precisamos mudar a rentabilidade na poupança no Brasil?
Delfim Netto - Temos a impressão de que a caderneta de poupança é um grande benefício, pois ela é um investimento líquido e seguro e porque essa reserva pode atender a qualquer emergência do poupador. Mas a mesma pessoa que tem R$ 1 mil aplicados, com rendimento de 6% ao ano, também acumula dívidas, por exemplo, de R$ 2 mil. No final do ano, ele estará recebendo como retorno da poupança R$ 60, mas estará pagando um juro de 40% sobre essa dívida de R$ 2 mil, ou seja, R$ 800.
DINHEIRO - E com juro menor não se reduz o rendimento da poupança...
Delfim Netto - Não se trata de reduzir rendimento da poupança, é chegar a uma estrutura mais decente que beneficie ao poupador que é o depositante, e à sociedade. Neste momento não se pode baixar a 5,5% real, por causa do piso da poupança.
DINHEIRO - Por que esse problema é difícil?
Delfim Netto - Porque as pessoas calculam mal. As pessoas têm na cabeça o confisco da poupança, em 1990, pelo governo Collor. Mas é preciso explicar a esse sujeito que ele está sendo roubado. O governo quer que o poupador seja menos roubado, e ao mesmo tempo está aplicando a politica econômica mais adequada.
DINHEIRO - O senhor está de acordo com a política do governo?
Delfim Netto - Absolutamente de acordo. É uma lenda urbana essa coisa de achar que se mexer na poupança as pessoas entrarão em desespero.
DINHEIRO - Estamos chegando ao Brasil do juro baixo?
Delfim Netto - Vamos ter que conseguir, o Brasil não pode continuar sendo o último peru com farofa disponível no mercado internacional, fora do dia de ação de Graças. O Brasil não pode continuar nesse papel. Precisamos convencer a sociedade de que este é um passo necessário para ter a taxa de juro real parecida com a do mundo para evitar a arbitragem e a super valorização do real. É um mecanismo para defender a indústria, o emprego.
DINHEIRO - Não existem aplicações seguras, líquida e rentáveis ao mesmo tempo? Vamos aprender a arriscar no mercado acionário?
Delfim Netto - Quem tem pequenos investimentos, quem tem R$ 100 mil, não está na caderneta de poupança. Essa pessoa já investe em CDB. A poupança continuará a ser a mais segura e líquida o que não pode ter é ficar nesse piso de 6%, pois se o juro cair mais do que isso, todo mundo iria para a poupança.
DINHEIRO - Os bancos já estão preparados para reduzir spreads?
Delfim Netto - Os bancos terão de se preparar para isso. Os bancos brasileiros são eficientes, seguros, e não serão afetados. Na verdade, eles terão de reduzir spread, e aí o governo tem de reduzir tributação, depósito compulsório, ou seja, fazer a parte dele. Isto não é uma coisa isolada, é um processo.
DINHEIRO - Estamos no meio de um processo..este círculo virtuoso da economia então vai continuar?
Delfim Netto - Sim, não há nenhuma razão para ele ser interrompido. É preciso entender o que está acontecendo. Mas é preciso convencer a sociedade, e no fim, tem que fazer o que é melhor para a sociedade.
DINHEIRO - O senhor aplica em poupança?
Delfim Netto - Não, fazer poupança é ser roubado.
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