Criadores do Ceará fortalecem a cadeia produtiva no Estado, de olho no crescimento do mercado nacional
Fátima Costa, de Acaraú (CE)
Fátima Costa, de Acaraú (CE)
Camarão branco: Costa Negra, região do litoral cearense, recebeu o selo de certificação de qualidade, o que agregará maior valor ao produto
A pequena cidade de Acaraú, a 255 quilômetros de Fortaleza, no litoral do Ceará, é um dos poucos municípios no País que ainda sobrevivem da pesca. Até uma década atrás, o camurupim, um peixe que pode atingir 2,5 metros e pesar 160 quilos, predominava entre as espécies capturadas no mar. A importância desse peixe para Acaraú é tão grande que a cidade ergueu um monumento em sua homenagem. Nos últimos anos, a captura do camurupim tem sido menos farta nas águas quentes do litoral cearense, mas o município permanece no mapa da pesca por causa da lagosta – o Estado é o maior produtor do País – e também em função da produção de camarões. Mas não é apenas do mar que esses crustáceos estão saindo. Os produtores do Ceará estão criando camarões em tanques construídos no continente, em fazendas à beira-mar. “Hoje, do camarão se beneficiam homens e mulheres que moram nas comunidades no entorno das 180 fazendas de cultivo no Estado”, diz Flávio Bezerra da Silva, secretário de Pesca e Agricultura do Ceará.
Segundo a Associação de Criadores do Estado, essas fazendas geram 11 mil empregos diretos e ocupam uma área de cinco mil hectares de lâminas d’água concentrados, em cinco polos – Acaraú, Coreaú e Mundaú- Curu e nas regiões do baixo e médio rio Jaguaribe. “Cerca de 70% das fazendas pertencem a pequenos produtores, com áreas inferiores a 30 hectares”, diz Silva. A maior parte dessas fazendas fornece o crustáceo para as grandes empresas de beneficiamento instaladas no Estado, que está no topo do ranking nacional dos produtores de camarão, posição que foi tomada do Rio Grande do Norte há três anos. Neste ano, os cearenses estão criando 35 mil toneladas de crustáceos em tanques, contra as 25 mil toneladas previstas pelos potiguares. No Ceará, hoje, a captura em mar aberto não chega a 10% do camarão produzido no Estado. “A preferência pelo camarão dos tanques leva à redução da pesca extrativista, manejo perigoso que diminui a capacidade de reprodução no mar”, diz Silva. Ítalo Rocha, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão, diz que a tendência é o Ceará aumentar esses criatórios, distanciando o Estado ainda mais de outros polos de cultivo. De acordo com a entidade, há 1,3 mil produtores de camarão em tanques, no País, 95% dos quais no Nordeste. O clima e o solo onde são construídos os tanques, em geral próximos dos mangues e com fácil acesso à água salgada do mar, são fatores que contribuem para o desenvolvimento da espécie. Em 2010, a produção do País foi de 75 mil toneladas de camarão. O Ceará responde por 30 mil toneladas, o equivalente a 40% do total nacional, que gerou uma receita estimada em R$ 300 milhões no ano passado. “Para o ano que vem, a perspectiva é de um crescimento de 10%”, afirma Rocha.
Fazenda da Nutrimar, em Acaraú: toda a cadeia produtiva é monitorada
Acaraú é um dos motores da atividade pesqueira no Estado, por estar localizada na melhor área de produção do Ceará. O município está situado na chamada Costa Negra, um local de águas escuras que se estende por 320 quilômetros de litoral entre a foz do rio Aracatimirim, na localidade de Torrões, e a foz do rio Guriú, em Jijoca de Jericoacoara, um dos paraísos turísticos do Brasil. “A região também se popularizou internacionalmente pelos camarões que produz”, diz Rocha. Desse pedaço do Brasil sai um crustáceo diferenciado no mercado, com qualidade superior e produzido de forma ecologicamente correta. Por suas características de sabor e textura, em outubro o camarão branco da Costa Negra, cientificamente chamado de Litopenaeusvannameique – espécie que se assemelha muito ao crustáceo encontrado no mar –, recebeu do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) um selo de certificação de qualidade. Agora, os produtores da região que podem comercializar seus produtos com Denominação de Origem esperam agregar mais valor de mercado aos camarões. Hoje, os frigoríficos pagam aos produtores a média de R$ 6 por quilo.
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