Depois de oito pacotes e dezenas de medidas, a indústria vai terminar 2012 sem recuperar o fôlego. A última projeção do mercado é de que a produção tombe, no ano, 2,31% — com a ressalva de que não será surpresa se esse número piorar até dezembro. Os dados do setor ainda apresentam situações contraditórias: enquanto o faturamento cresce a boas taxas no acumulado de 12 meses até setembro, o ritmo de produção e o emprego encolhem.
Os preços, tanto no atacado quanto no varejo, com exceção de automóveis e produtos de linha branca, não cedem ou continuam a subir. Para economistas, os benefícios concedidos, até o momento, serviram apenas para ampliar margens de lucro. Não se converteram em ganho de competitividade ou preço mais baixo para os consumidores. Enquanto as empresas não conseguem aumentar a competitividade, o trabalhador perde o emprego.
Os números do setor, apesar de qualquer medida, ainda não justificam tirar da gaveta novos projetos de investimentos. As fábricas, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), têm operado cerca de 20% abaixo da capacidade máxima, mesmo depois de todos os estímulos dados. Portanto, avaliam representantes do setor, não há necessidade de ampliação: há muita margem ociosa para trabalhar. "As medidas para a indústria ajudaram a recuperar a margem de lucro, mas isso não significa que a indústria vá produzir mais", critica Alessandra Ribeiro, economista da Tendência Consultoria. "O governo, no fundo, já sabia disso. Alguns benefícios vieram mais para aumentar a rentabilidade do que para ajudar no desempenho do setor", constata.
Técnicos do governo têm argumentado que as más perspectivas da indústria são fortemente contaminadas pelos resultados de setembro, um mês ruim devido ao excesso de fins de semana e feriados, o que é atípico. O último trimestre, na visão de técnicos da equipe econômica, promete números melhores.
Para alguns especialistas, porém, os efeitos sobre a produção não se limitam a um mês. E poderiam ser diferentes caso as medidas adotadas pelo governo tivessem outro escopo. Elas são consideradas pontuais demais frente ao tamanho dos problemas que precisam ser resolvidos. Devolver a competitividade para o Brasil e evitar a desindustrialização, explicam, não são coisas que se façam apenas com dólar alto frente ao real e juros baixos. Esses dois fatores, avaliam, têm de ser vistos apenas como um começo e, no caso do dólar, um auxílio momentâneo. Aliás, ponderam, não existe país forte com moeda fraca.
Oferecer desonerações para setores da economia é sempre positivo, porém, apenas atenua falhas estruturais causadas, muitas vezes, pelo peso da mão do Estado, que tem sido o responsável por boa parte da falta de competitividade brasileira. Os impostos cobrados sobre a produção e os investimentos reduzem a chance de os produtos brasileiros fazerem frente aos preços norte-americanos, europeus e chineses.
Menor consumo
Um dos sinais de hesitação no radar da indústria é a desaceleração do consumo interno. Mesmo com a letargia da produção, essa demanda continua a crescer, porém não está mais no auge e tem perdido força mês após mês em função do endividamento das famílias. Ao mesmo tempo, o custo da mão de obra avança a passos largos, com reajustes anuais de dois dígitos para diversas categorias. O mercado externo, para onde deságua uma parte considerável da produção brasileira, está travado pela crise na Europa, por barreiras alfandegárias na Argentina e pelo crescimento modesto dos Estados Unidos.
"As empresas brasileiras não conseguem competir porque os preços no comércio internacional caíram bastante", explica o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo, Alfredo Bonduki. "O dólar ajudou principalmente na exportação. Houve desoneração e incentivos, mas isso ainda não foi suficiente para fazer frente aos preços na China", queixa-se.
As medidas, alertam especialistas, tendem a ter eficácia cada vez menor quando se insiste em alguns pontos. "Você não consegue utilizar o mesmo truque já utilizado em 2009. As medidas de agora têm se mostrado um tiro n"água. Mas o governo parece convencido, pelo menos, de que também precisa estimular o crescimento via investimentos, e não apenas o consumo", afirma o economista João Luiz Mascolo, sócio da gestora de ativos SM Management.
Por Victor Martins e Deco Bancillon/ Correio Braziliense
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