Além de dez empresas recém-chegadas, outras 106 pleiteiam a oportunidade de implantar seus empreendimentos na 'terra do sol'
ÂNGELA CAVALCANTE
Segundo o governo do estado, dez novas indústrias estão instaladas e prestes a ser inauguradas no Ceará. [Uma delas, a Fita Elásticas Estrela S.A., foi inaugurada em 15 de maio].
Juntas, elas somam investimentos da ordem 534,25 milhões de reais e
irão gerar 4 405 empregos diretos. Embora, por si só, tais números já
sejam animadores para qualquer setor, isso é apenas a 'ponta do
iceberg', pois representa uma ínfima parte do desenvolvimento que o
segmento industrial proporcionará ao estado e aos cearenses nos próximos
anos.
Além das dez empresas recém-chegadas, outras 106 pleiteiam a
oportunidade de edificar suas plantas fabris na 'terra do sol'. Dentre
elas, 32 já apresentaram propostas de protocolos de intenções, que
aguardam a deliberação do Conselho Estadual de Desenvolvimento
Industrial (Cedin), presidido pelo governador do estado, Cid Gomes. Os
32 empreendimentos somam aproximadamente 2,6 bilhões de reais. Se todas
forem efetivamente implementadas, essas empresas terão impacto direto no
mercado de trabalho local, com a criação de mais 5 130 empregos.
De acordo com o presidente do Conselho Estadual de Desenvolvimento
Econômico do Ceará (Cede), Ivan Bezerra – industrial de tradição no
estado no ramo têxtil que exerce também o cargo de 1º vice-presidente da
Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) –, na pauta do
Cedin, onde ele também tem assento, constam ainda nove aditivos a
protocolos de intenções, que são modificações e melhorias nos protocolos
originais, e mais 19 propostas de protocolos em execução. “No total,
temos 28 empresas com propostas de resoluções para serem aprovadas. São
empresas que já deram início à construção de suas fábricas, gerando 765
empregos, e que somam investimentos em torno de 54,3 milhões de reais”,
estima Ivan Bezerra.
Os dados fornecidos pelo Cede indicam, segundo seu titular, a
ocorrência de um inédito fenômeno vivenciado pelo Ceará: a migração em
massa de parques fabris e grandes grupos empresariais do Sul do país
para o semiárido nordestino, mais especificamente para o nosso estado.
Esses empreendimentos estariam sendo atraídos por causa dos benefícios
oferecidos pelo governo, incluindo os incentivos fiscais, somados a
outras vantagens competitivas, como localização e infraestrutura
portuária e logística, e a perspectiva promissora que se instalou por
aqui com a chegada de empreendimentos estruturantes como refinaria,
siderúrgica e termelétrica, além da transposição da bacia do Rio São
Francisco e da Transnordestina, dentre outras promessas.
“Nós temos benefícios ótimos; temos a posição logística favorável na
qual o Ceará se encontra. Além disso, temos um porto com navios
constantemente indo para Europa e Estados Unidos, que gastam apenas seis
a sete dias de viagem até o destino. Enquanto que do Sul do Brasil para
a América ou a Europa são gastos de dez a 12 dias. Então, já temos uma
economia de três a quatro dias em relação a estados da região Sul”,
calcula o presidente do Cede.
Outro fator apontado por Ivan Bezerra para explicar a busca das
indústrias pelo Ceará é o crescimento do poder de consumo da população
nordestina. “De três anos para cá, a região se encontra em um momento no
qual o poder aquisitivo está cada vez mais alto. Por isso a demanda é
muito grande, ampliando a cadeia de fornecimento no Ceará. E as empresas
estão vindo para atender a tal demanda.”
De acordo com o presidente do Cede, passou o tempo em que o Ceará e o
Nordeste eram considerados ‘terras de perspectiva dura’. “Hoje, nós
temos um novo Nordeste e um novo Ceará.” Não fosse isso, por que um
grupo como a Vulcabras sairia de um estado tão próspero, como o Rio
Grande do Sul, para se implantar totalmente no Ceará?, pergunta. Ele
lembra que no momento a Vulcabras emprega 16 000 funcionários em nosso
estado.
Fato semelhante ocorreu com a Grendene, que emprega aqui 22 000
funcionários e também deixou o Rio Grande do Sul. “Outra empresa de
calçados – a Paquetá – se transferiu para o Ceará há oito anos e tem
hoje quatro indústrias instaladas que empregam 4 500 pessoas. E olha que
ela está dobrando para 9 000 o número de funcionários”, anuncia Ivan
Bezerra, para quem estamos em outro Ceará: “No Ceará que tem o Porto do
Pecém, que possui uma logística para o mundo todo muito fácil e barata.
Nós temos dois portos muito bons, com custo muito pequeno. É outro Ceará
e, consequentemente, outro Nordeste. Atualmente, o crescimento
nordestino é maior do que o crescimento brasileiro”.
As experiências bem sucedidas de grandes empresas no estado também são
atrativos irrefutáveis, na opinião do secretário. “O presidente do Grupo
Marisol, Vicente Donini, por exemplo, se deu muito bem aqui e agora
está trazendo uma fábrica de calçados do Rio Grande do Sul. Ele já
avisou que logo trará boas novidades.”
Segundo Ivan Bezerra, quem já veio para o Ceará dá informações a outros
empresários. “Tem industrial que garante que não quebrou porque veio
para cá. Alguns dizem que os benefícios fiscais e o mercado deram
condições de sobrevivência a suas empresas.” Essas experiências de uns
para outros formam uma corrente que gera muitos frutos para o estado.
“Sou também empresário e tenho empresas subsidiadas, que recebem
benefícios do governo do estado. Então, sei o quanto a empresa pode se
desenvolver em função desse subsídio”, atesta.
Vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) há
14 anos e há 30 anos no mercado nacional com a Têxtil Bezerra de Menezes
(TBM), o presidente do Cede possui articulação nacional no setor
industrial, transitando com natural facilidade nos negócios e na
política do governo Cid Gomes. Isso lhe possibilita saber em primeira
mão das intenções de empresas que planejam se transferir para o Ceará.
Empresários de Santa Catarina já confidenciaram a Ivan Bezerra que
pretendem migrar para o Ceará, a fim de fugir dos impactos negativos
causados pelas constantes cheias e pela falta de mão de obra. “Eles
dizem que existe semana de passar três dias sem ter como os funcionários
irem para a fábrica por causa das enchentes. Há empresário com empresas
no Ceará e em Santa Catarina que pretende vir de vez para nosso estado
porque a mão de obra é farta e a produtividade do cearense é muito
maior”, confidencia. Com a vinda de boa parte do parque fabril
catarinense para o Ceará, ele estima que nos próximos dois anos o estado
poderá chegar à posição de segundo ou primeiro polo têxtil do Brasil.
Defensor dos incentivos fiscais, Ivan Bezerra planeja torná-los mais
atraentes no Ceará em relação a outros estados nordestinos. “Já estou
com um pleito para levar ao governador, mostrando o que os outros
estados oferecem e o que nós estamos ofertando. Nós estamos aquém.
Então, estou levando uma proposta de aumentarmos e nunca ficarmos abaixo
dos demais”, adianta.
Para ele, ao conceder incentivos fiscais, o estado ganha de maneira
indireta – o que compensa a redução na arrecadação de impostos. “Se a
empresa não está aqui, não tem imposto. O estado não arrecada nada, não
há emprego. Ora, se a empresa oferece empregos, já é muita coisa. E
existe a arrecadação indireta. Uma empresa que emprega mil pessoas,
propiciará cerca de 3 000 refeições por dia aos funcionários. Quanto
circularia em dinheiro, gerando novos empregos e injetando recursos no
mercado?
E quanto de imposto o estado estaria recebendo? E esses funcionários
todos ganhando dinheiro, quanto gastariam? Dessa forma, o estado recebe
indiretamente”, defende Ivan Bezerra.
Filho de Juazeiro do Norte, no Cariri, o empresário tem se empenhado
pessoalmente em melhorar o perfil industrial daquela região. “Em
Juazeiro, existia um distrito industrial nominal. Sem indústria. Porque
não tinha sequer o acesso. Na gestão do Cid Gomes, nós asfaltamos e
criamos acesso e hoje são aproximadamente 300 hectares, todos loteados,
cedidos para indústrias de calçados, de alumínio, de móveis e de
confecção. Ou seja, 100% já comprometidos. Já estamos pensando em
aumentar essa área do Distrito Industrial (DI).”
Além da ampliação anunciada para o DI de Juazeiro, está nos planos do
governo criar outros distritos industriais, além dos existentes em
Maracanaú (três), Jaguaribe, Juazeiro do Norte e Sobral. O de Acopiara,
em andamento, tem previstas 31 indústrias, que vão gerar em torno de 1
700 empregos diretos. Outros municípios cotados para ganhar distritos
industriais, segundo o secretário, são Iguatu e Tauá. “Iguatu é uma
região muito central e Tauá irá puxar a região dos Inhamuns para esse
distrito, pois o município sozinho não avança. É preciso haver um
aglomerado de localidades que se abasteça nele”, justifica Ivan
Bezerra. Além das ações locais e da articulação nacional para ampliar o
parque fabril cearense, o estado prospecta internacionalmente. “Estamos
vendo a possibilidade de trazer uma fábrica de automóveis coreana para
cá.”
Política industrial
Base da política industrial do estado do Ceará, o Fundo de
Desenvolvimento Industrial (FDI), criado em 1979, mantém um sistema de
incentivos fiscais que, além de promover a atração de indústrias ao
estado, estimula as empresas a se instalarem no interior cearense.
Dentre os critérios para conceder benefícios, o FDI prevê que quanto
mais longe a empresa se instalar da capital, Fortaleza, maior será a
redução do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que
pode chegar a 75% do total do imposto a ser pago.
Também há outros requisitos como número de empregos gerados e o
Produto Interno Bruto (PIB) do município onde a indústria irá se
instalar. Quanto maior o número de postos de trabalho oferecidos pela
empresa e quanto menor o PIB municipal da planta fabril maior será a
isenção de impostos.
Balanço
No ano passado (2011), foram analisados pelo Cedin 255 pleitos
referentes ao FDI. Dentre eles, foram aprovados 92 novos
empreendimentos, com protocolos de intenções firmados, somando
investimento da ordem de 3,99 bilhões de reais no Ceará, com perspectiva
de geração de 9 629 empregos diretos, beneficiando 29 municípios
cearenses.
Os projetos mais expressivos, considerando o volume de investimentos
privados atraídos, concentram-se nos segmentos de geração de energia,
produção de biocombustível, cimento e louças sanitárias, além de uma
montadora de veículos. Entre 2007 e 2011, foram criados 13 723 empregos
no Ceará por empresas atraídas pela política industrial do estado, que
geraram um volume de investimentos estimados em 1,05 bilhão de reais.
ENTENDA MELHOR:
O Conselho Estadual de Desenvolvimento Industrial (Cedin) é
presidido pelo governador e tem como conselheiros os presidentes do Cede
e da Adece, além dos secretários da Fazenda, de Planejamento e Gestão e
Desenvolvimento Agrário.
Perfil da indústria cearense
Respondendo por 24,5% da economia do estado e com 73,9% das
empresas concentradas na região metropolitana de Fortaleza, a indústria
gera 334.000 empregos no Ceará e é responsável por 64,5% das suas
exportações. Os segmentos têxtil e vestuário, calçados, alimentos e
bebidas, mais a construção civil, concentram 75% dos empregos gerados
pela indústria cearense. Os cinco principais setores exportadores são
calçados, couros, castanha de caju, ceras vegetais e fruticultura, que
respondem por mais de 75% do total exportado.
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