Uma boa dose de razão deve aflorar nas discussões sobre a matriz energética brasileira, e que venha a ser dado o peso equivalente para as quatro dimensões: segurança energética, meio ambiente, modicidade tarifária e o desenvolvimento econômico e social
(*) Fernando Luiz Zancan, da ABCM
O acordo de Copenhagen, estabelecido em 2009, identificou duas questões cruciais para a humanidade: primeiro, a necessidade de as nações atenderem aos desafios das mudanças climáticas; segundo, a necessidade de os países menos desenvolvidos reduzirem a miséria e a pobreza. Estudos mostram claramente que a redução da miséria está ligada ao maior consumo de energia elétrica e ao crescimento do IDH das nações. O desafio é enorme no mundo, segundo a Agência Internacional de Energia - IEA. Existem 2,56 bilhões de pessoas vivendo com menos de US$ 2 por dia, 1,3 bilhão sem acesso à energia, 2 bilhões com consumo limitado, e ainda 2,7 bilhões cozinhando seus alimentos com energias poluentes.
Antes de Copenhagen, momentum das mudanças climáticas, a ONU havia definido suas Metas do Milênio, visando reduzir a miséria mundial com apoio financeiro dos países desenvolvidos, pois a primeira meta da ONU de reduzir à metade a extrema pobreza, de 1990 a 2015, tinha sido atingida. Praticamente sem o dinheiro prometido, a miséria diminui em todo o mundo, mas foi na China que isso ocorreu de forma significativa. A China reduziu de 84% em 1981 para 13% em 2008, o número de pessoas que viviam com menos de 1,25 US$/dia, tirando, segundo o Banco Mundial, 662 milhões da pobreza.
A redução da miséria na China passou por um programa de universalização do acesso à energia elétrica através da implantação de infraestrutura básica. O consumo de energia elétrica, de 1985 a 2003, cresceu cerca de 1.500 TWh (80% a carvão). Essa evolução foi movida a carvão. Durante o período 1980-2008, o consumo anual de carvão cresceu de 626 milhões para 2,7 bilhões e agora chega a 3,4 bilhões. Hoje, um chinês consome cerca de 2700 kWh/per capita, um pouco mais que o um brasileiro e metade que um cidadão num país desenvolvido, como a Espanha. Essa revolução gerou emprego e renda, e transformou a China numa potência mundial.
No ano da Rio+20, o mundo está diferente. O alarmismo climático começa a ser reduzido por seus mais contundentes defensores. A recessão bate à porta dos países europeus. As palavras de ordem são desenvolvimento e emprego. Até o discurso ambiental muda, focando-se mais nos empregos verdes do que nas mudanças climáticas, visando surfar na onda da sustentabilidade. Mas, pragmaticamente, a energia fóssil continua sendo aquela que suporta o desenvolvimento do planeta e que tira as pessoas da miséria.
Na indústria do carvão, são 7 milhões de empregos no mundo, além dos empregos relacionados na indústria do cimento, aço, geração de energia e transporte - uma enorme cadeia produtiva de emprego e renda. A tecnologia associada a essa indústria cada vez mais diminui o impacto ambiental a custos suportados pela sociedade. Não esqueçamos os mais pobres e sua Sociedade, que deve poder pagar pela a energia consumida. O combustível esquecido e estigmatizado é o que mais cresce no século XXI, passando a ser o combustível da sustentabilidade.
Mesmo os mais aquinhoados e tidos como verdes continuam consumindo e fazendo usinas termelétricas a carvão, vide os 12.000 MW em construção na Alemanha, que usa as melhores tecnologias para a redução de emissões, incluindo o CO2. Nesse verde e imenso Brasil em desenvolvimento, de invejável matriz de energia renovável, por conta de uma política energética focada em reduzir o CO2, coloca-se a sua maior fonte energética fóssil no limbo. Sob o estigma de caras e sujas, as térmicas, despachadas ao nosso comando, são a garantia de energia firme para o desenvolvimento sustentável do nosso país.
Hoje, no momento em que estamos com falta de água no sul, com hidrelétricas paralisadas e presos por um fio ao sudeste, roga-se a Deus para que chova e que fique pronta uma nova linha de transmissão em 2013. Estão fazendo falta os 700 MW a carvão, que estariam em construção e gerando 3 mil empregos no município de Candiota/RS numa região pobre se, em 2009, sob o momentum de Copenhagen, não houvesse sido cancelado o leilão A-5.
Creio que uma boa dose de razão deve aflorar nas discussões sobre a matriz energética brasileira, e que venha a ser dado o peso equivalente para as quatro dimensões: segurança energética, meio ambiente, modicidade tarifária e o desenvolvimento econômico e social. Faço votos de que, no mundo da Rio+20, os dignitários dos países que mais crescem do mundo, como a China e a Índia, tragam o exemplo de como usar seus recursos intelectuais e naturais para tornar seus países mais sustentáveis, com políticas não discriminatórias aos combustíveis fósseis, especialmente ao mais importante para suas sociedades, o carvão mineral.
(*) Fernando Luiz Zancan é presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral
Fonte: Newsletter CanalEnergia, maio/12
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