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terça-feira, 12 de junho de 2012

Brasil tem de ficar atento ao risco China


Com todos os olhos voltados à Europa, onde Grécia e Espanha veem sua situação se agravar a cada dia, têm merecido menos atenção do que deveriam as mudanças na China. Como observa Kenneth Rogoff, da Universidade Harvard, o Brasil, grande exportador de commodities consumidas pela China, pode ser mais suscetível à evolução da situação do gigante asiático do que à crise europeia (salvo um imenso desastre), especialmente no médio e longo prazo.
Rogoff acha que o crescimento chinês nos próximos anos pode vir a ser muito mais baixo do que os 7% a 8% que a maioria dos analistas prevê para 2012. “Mesmo que a China não tenha uma desaceleração dramática, é muito provável que durante os próximos anos o crescimento chinês vá desacelerar para algo como 5%”, diz.
Para Rogoff, que já foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) e hoje é um dos mais respeitados economistas do mundo, há vários fatores que devem reduzir consideravelmente o ritmo chinês: a redução da migração do campo para as cidades, dentro de um quadro demográfico que será progressivamente menos favorável ao crescimento; diminuição da capacidade de a China crescer buscando alcançar (“catching up”) o nível tecnológico das nações ricas; e a queda do retorno dos maciços investimentos do país, que correspondem atualmente a 50% do PIB (contra menos de 20% no Brasil).
A curto prazo, ele chama a atenção para a complicada transição política na China, onde Xi Jinping deve suceder a Hu Jintao como presidente. Mas o pano de fundo mais delicado do processo político chinês está ligado ao recente expurgo de Bo Xilai, que chefiava o Partido Comunista na província de Chongqing. Populista e personalista, Bo notabilizou-se por campanhas contra o crime organizado, mas acabou caindo, na esteira de escândalos de corrupção e até de cumplicidade em assassinato envolvendo um auxiliar e sua esposa.
Rogoff nota que “expurgaram uma pessoa, mas potencialmente há muitos outros que, mesmo que não tão ruins, se envolveram em corrupção, e estão sentados em suas cadeiras, preocupados com seus empregos e seu futuro – e não só eles, mas também todos os seus aliados”. Para ele, essa situação cria um “cabo de guerra” dentro do Partido Comunista, ainda que não muito visível para o público externo.
Há um lado positivo no imbróglio político na China, diz o economista, já que lideranças reformistas têm enfrentado lobbies e grupos de interesse que atravancam o necessário processo de mudança na China. Por outro lado, observa Rogoff, é inevitável que a curto prazo os conflitos políticos se traduzam em mais incertezas e riscos na arena econômica.
No momento, os mercados internacionais estão sequiosos por anúncios de medidas do governo chinês para reestimular a economia do país no curtíssimo prazo. Esse desejo é compreensível. Com os Estados Unidos rateando, a Europa praticamente em recessão e o Japão ainda preso na sua prolongada armadilha de baixo crescimento, a China é o único grande motor com o qual a economia global pode contar.
O problema é que as formas clássicas utilizadas pelo governo chinês para colocar lenha na fogueira estão inviabilizadas ou podem ter efeitos colaterais indesejados. Buscar a demanda externa num momento em que a economia mundial fraqueja não faz muito sentido, e estimular ainda mais os investimentos cria o risco de provocar desequilíbrios muito mais sérios à frente.
A China, na verdade, pelo menos no discurso oficial, vem tentando rebalancear o crescimento na direção do consumo, mas isso é mais complicado do que simplesmente liberar o crédito dos bancos estatais e pisar no acelerador do investimento público – a receita dos últimos anos.
Ontem, a agência estatal de notícias Xinhua informou que o governo central não cogita adotar um plano agressivo de relançamento da economia como o que foi posto em prática, com grande sucesso no curto prazo, em 2008 e 2009. Como recalibrar o modelo é um objetivo oficial do governo, é possível que as autoridades chinesas escamoteiem uma política de reestímulo ainda que a adotem parcialmente, premidas pela necessidade de evitar uma desaceleração rápida demais.
Ainda assim, da mesma forma como se diz que o Brasil não pode persistir num modelo supostamente movido pelo consumo, é mais certo ainda que é muito arriscado para a China redobrar a aposta num modelo movido pelo investimento. Há muitos fatores a indicar, portanto, que as chances de uma forte redução do ritmo chinês nos próximos anos são de fato muito altas. Isso certamente terá um impacto baixista nos preços das commodities exportadas pelo
Brasil, e criará uma situação internacional menos favorável ao crescimento do País. A China é a economia que deveria estar hoje no centro do radar do governo brasileiro, dos empresários e da sociedade em geral.

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