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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Gás natural: continuaremos a depender da Bolívia?


Se depender dos números expostos na página 47 do Plano de Negócios (PN) 2011-2015 da Petrobras, a resposta é sim.
O PN acima mencionado dividiu a oferta e a demanda do gás natural (GN) em dois períodos, 2015 e 2020. Analisemos os números. Para 2015, está prevista uma oferta total de 149 milhões de metros cúbicos por dia (mm³/d), sendo 78 mm³/d de GN nacional; 41 mm³/d de gás natural liquefeito (GNL, importado) e 30 mm³/d da Bolívia. Nesse mesmo ano, a demanda total é de 151 mm³/d, sendo que 59 mm³/d para as térmicas (Petrobras e terceiros); 53 mm³/d para as distribuidoras de GN; e 39 mm³/d para a Petrobras (refino e fertilizantes). Observando os números, vemos que há um pequeno déficit de 2 mm³/d, que pode ser facilmente solucionado com maior produção nacional (mais provável) ou com importação.
Para 2020, temos uma previsão de oferta total de 173 mm³/d, sendo 102 mm³/d de GN nacional; 41 mm³/d de GNL e 30 mm³/d da Bolívia. A demanda total prevista é de 200 mm³/d, sendo 76 mm³/d para as térmicas; 63 mm³/d para as distribuidoras; e 61 mm³/d para refino e fertilizantes. Ou seja, em 2020 teremos um déficit entre oferta e demanda da ordem de 27 mm³/d.
Esse déficit, mesmo com aumento da produção nacional de 30,77% (78 mm³/d e 102 mm³/d em 2015 e 2020, respectivamente), deve-se ao fato de que haverá um aumento substancial na demanda entre 2015 e 2020, da ordem de 32,45% (151 mm³/d e 200 mm³/d). Pergunta-se: de onde virá esse volume faltante?
O grave nesse panorama é que não vemos a curto nem a médio prazos uma produção nacional que nos deixe livre das dificuldades criadas pelos bolivianos liderados por Evo Morales, que humilharam há alguns anos o nosso país e confiscaram os ativos do povo brasileiro, sob o olhar leniente dos governantes de então, quando o caminho correto seria aos tribunais internacionais.
De positivo, vemos que a produção nacional de GN, entre altos e baixos, ao contrário da produção de petróleo e derivados, vem tendo uma boa performance. Entre 2000 e 2011, a produção saltou de 36,414 mm³/d para 65,955 mm³/d, aumento de 81,12%; média anual de 6,76%. No primeiro mês de 2012, observamos um recorde na produção diária de 71,093 mm³/d, o que representa um aumento de 7,30% em relação ao mesmo mês do ano anterior. No entanto, para que nos livrássemos da dependência da Bolívia teríamos que crescer 11,0% de forma contínua até 2020, e aí teríamos uma produção nacional de 164 mm³/d que, acrescidos aos 41 mm³/d de GNL, alcançaria 205 mm³/d.
Importante ressaltar o grande esforço realizado pela ANP e pela Petrobras no sentido de diminuir os enormes desperdícios relacionados à reinjeção e queima, observado nestes últimos 10 anos. Em 2002, tivemos uma média diária de 9,269 mm³/d de reinjeção, o que representou 21,81% do total produzido, e 5,844 mm³/d referentes à queima, 13,75% do total. Ou seja, naquele ano, do total produzido, 35,56% não foram utilizados.
Em janeiro de 2012, temos um panorama mais ajustado. A reinjeção foi de 11,256 mm³/d, 15,83% do total produzido, e 4,493 mm³/d referentes à queima, 6,32% do total, resultando entre reinjeção e perda, em 22,15%. Pelos números apresentados, observamos que estes números podem melhorar ainda mais. Afinal, entre 2002 e 2012, a queima foi reduzida em mais da metade do total produzido (13,75% contra 6,32%).
No tocante ao GNL, mais caro que o gás convencional em função de suas particularidades, o mesmo continuará sendo importado até que os grandes campos do pré-sal (se confirmados os seus volumes e viabilidade econômica) comecem a produzir. No entanto, devido à grande distância entre os campos do pré-sal e o continente e outros fatores técnicos, não será fácil a utilização de gasodutos para o seu transporte.
Assim, teremos que fazer a transformação do GN em GNL utilizando o sistema offshore e onboard em plataformas do tipo Floating Liquefied Natural Gás – FLNG (plataforma flutuante para liquefação de gás natural), do tipo que será utilizada pela Shell ® no campo de Prelude, na Austrália, Em menor escala, poderemos, também, utilizar o GN do pré-sal na geração de energia offshore, que seria transportada através de cabos submarinos.
Um fato é cristalino: temos que trabalhar para não depender dos humores bolivarianos da Bolívia. Tenho absoluta certeza de que, com afinco, conseguiremos nossos objetivos.
(*) Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em materiais explosivos, estruturas de concreto e geração de energia. 
Fonte: Suporte Postos/Jornal do Brasil

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