A “fadiga decisória” pode trazer efeitos nocivos para a sua empresa e para a sua vida, dizem pesquisadores
Por Paulo E. Nogueira
Não faça hoje à noite o que você pode fazer amanhã de manhã
Talvez você ache que chegou a hora de promover uma reestruturação do negócio, ou de tomar alguma decisão estratégica, com impacto no futuro da empresa. Mas, se a hora em que você está pensando nisso é perto do fim do expediente, é melhor deixar para amanhã. Decisões tomadas pela manhã costumam ser melhores. Que o digam os prisioneiros israelenses: um estudo da Universidade Ben-Gurion sobre 1,1 mil pedidos de liberdade condicional mostrou que 70% dos presos se beneficiaram em audiências matinais, ante apenas 10% que obtiveram a liberdade nas últimas sessões. Estes foram vítimas da “fadiga decisória”, segundo o diagnóstico de John Tierney, colunista científico da New York Times Magazine. O esforço mental dos juízes em analisar caso a caso, independente de seu mérito, esgotou sua capacidade de trabalho. Essa mesma fadiga decisória pode afetar o raciocínio de um técnico de futebol nos minutos finais da partida ou de um CFO ao fim do expediente. Por mais centrada que a pessoa pareça, sempre paga um preço biológico por tomar decisões sob fadiga mental. À medida que o dia passa e as decisões continuam a ser cobradas, diz Tierney, nosso cérebro tende a buscar atalhos, geralmente de naturezas opostas. Um dos atalhos é a impulsividade: decidir sem avaliar as devidas consequências. O outro é a inércia: decidir não decidir, adiar essa tarefa para as calendas, o que alivia a pressão momentânea, mas causa problemas no longo prazo. Segundo pesquisadores, a fadiga decisória explica por que pessoas normalmente gentis se enfurecem com colegas ou familiares, torram dinheiro com junk food nos supermercados ou não resistem à oferta de acessórios supérfluos feita pelo vendedor de carros. Para o psicólogo social Roy F. Baumeister, da Universidade da Flórida, a fadiga decisória faz parte de um fenômeno mais amplo, o “esgotamento do ego”. Baseado em uma hipótese especulativa de Freud – para quem o ego dependia de atividade mental que envolvesse transferência de energia –, Baumeister realizou estudos clínicos que demonstraram haver uma quantidade limitada de energia para manter o autocontrole. Ou seja, a força de vontade se exaure em determinado momento. Curiosamente, isso ratifica uma crença do século 19, segundo a qual a força de vontade seria como um músculo, que se desgastaria durante o uso e só se conservaria quando se evitassem as tentações. Os diversos estudos conduzidos por Baumeister permitem traçar o perfil do bom tomador de decisões: as pessoas com melhor autocontrole são aquelas que estruturam suas vidas de modo a conservar a força de vontade; não agendam infindáveis sequências de reuniões; evitam tentações, como os bufês de comer à vontade por preço único; mantêm hábitos que evitam o desgaste mental de decidir; e não lutam todo dia para decidir se fazem ou não ginástica, mas marcam com antecedência atividades físicas com amigos. Em resumo: em vez de lutar para que a força de vontade permaneça robusta o dia inteiro, o bom tomador de decisões a poupa para quando for realmente necessária. É esse o seu perfil?
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