Valor Econômico - SP
Quatro anos após comprar as usinas de açúcar e álcool da Dedini Agro por mais de US$ 600 milhões, o grupo espanhol Abengoa Bioenergia, subsidiária da empreiteira espanhola Abengoa, decidiu colocar os ativos à venda. Trata-se da primeira notícia concreta de intenção de desinvestimento em etanol envolvendo uma empresa estrangeira no país. A decisão, em estudo há alguns meses, deveu-se, segundo fontes do segmento, a resultados abaixo das expectativas.
O Valor apurou que a Abengoa contratou o Credit Suisse para assessorá-la na operação, que neste momento está em fase de assinaturas de memorandos de entendimentos com alguns potenciais grupos compradores - entre eles, as multinacionais e outras grandes empresas presentes no setor. Procurada, a Abengoa não retornou os pedidos de entrevista. O Credit Suisse não comentou o assunto.
Pelas duas usinas - a São Luiz, localizada em Pirassununga, e a São João, de São João da Boa Vista -, o grupo espanhol pagou US$ 297 milhões, além da assunção de dívidas de US$ 387 milhões. Na época, em 2007, foi anunciado que, juntos, os ativos tinham capacidade para moer 6,1 milhões de toneladas de cana por safra. Mas, segundo fontes ouvidas pelo Valor, a condição real se limita a, no máximo, 5 milhões de toneladas.
Boa parte desse "gap" se deu após a efetivação das aquisições, quando a Abengoa teve que abandonar áreas cultivadas com cana-de-açúcar, compradas no pacote junto com os ativos industriais, pois estavam em Área de Preservação Permanente (APP). De acordo com fontes, a falta de expertise da equipe da Abengoa em operar canaviais também ajudou a aprofundar a distância entre o "esperado" e o "realizado" pelo grupo espanhol.
Mesmo diante desse cenário, a empresa sustentou a aposta e seguiu realizando outros aportes na ampliação das duas usinas. Em seu site, a espanhola previa atingir em 2012 moagem de 7,3 milhões de toneladas de cana no Brasil, mas segundo apurou o Valor, nesta safra 2011/12, em finalização, a Abengoa processou apenas 4,3 milhões de toneladas de cana nas duas usinas próprias e numa terceira arrendada em Santo Antônio da Posse (SP), que moeu cerca de 100 mil toneladas.
No último balanço divulgado pela companhia, referente ao ano fiscal de 2010, o resultado consolidado da Abengoa Bioenergia foi um prejuízo de R$ 50,4 milhões. A receita líquida foi de R$ 493,3 milhões e a dívida com empréstimos, R$ 450 milhões, sendo metade no curto prazo.
Quando entrou no Brasil, a empresa tinha expectativa de que o Brasil fosse uma importante plataforma de crescimento mundial em biocombustíveis, dados os baixos custos de produção da época. Em 2007, produzir um litro de etanol hidratado custava R$ 0,95 no país segundo a FG Agro. Em 2011/12, foram R$ 1,24.
A empreiteira espanhola, que atua em infraestrutura e energia, faturou com todos os seus negócios € 5,5 bilhões em 2010. Em biocombustíveis, é a principal produtora da Europa e a sexta dos Estados Unidos, segundo informações divulgadas pela empresa.
Além de um certo descontentamento por parte de algumas estrangeiras que apostaram em etanol no país, há pouco apetite no momento por aquisições. O grupo paulista Clealco, por exemplo, desde junho de 2011 tenta vender 100% de suas duas usinas de cana, mas até agora não conseguiu fechar o negócio. Segundo apurou o Valor, a empresa renovou por mais seis meses o mandato com o Itaú BBA e segue à espera de uma posição da petroleira francesa Total, com quem negocia praticamente desde junho do ano passado.
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