A estratégia é comercializar álcool nos postos de
bandeira branca, disputando este mercado com as distribuidoras do país.
Para se tornar uma distribuidora, a usina tem de
criar uma nova empresa, com novo CNPJ. "Dez grupos do setor já nos
procuraram interessados em atuar como distribuidoras", diz Roberto
Ardenghy, diretor-superintendente de abastecimento da ANP (Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
"A intenção é entrar neste mercado para
torná-lo mais competitivo", afirma Antonio de Padua Rodrigues,
diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar). "As
usinas querem reduzir a volatilidade de preços do álcool no mercado e ter
maior flexibilidade na comercialização do combustível."
Na lista oficial da ANP já há registros de usinas
que atuam como distribuidoras. Entre elas, estão listadas os grupos Cosan,
como Cosan Distribuidora de Combustíveis Ltda, Louis Dreyfus Commodities,
como Coinbra Comércio e Distribuição de Combustível e Derivados de Petróleo,
e Dedini Agro, como Dedini Açúcar e Álcool Ltda. A meta agora é tornar as
distribuidoras das usinas mais atuantes. Entre as estratégias do setor
estuda-se a possibilidade das usinas formarem um pool para montar uma
distribuidora única, afirma Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, trading
que negocia álcool de 19 usinas do país. Essa decisão, contudo, ainda está em
discussão.
"Como distribuidoras, as usinas poderão
vender álcool mais barato para os postos", diz Padua. A Unica está em
negociação para que as usinas vendam para os postos sem precisar uma abrir
uma nova empresa.
Ardenghy confirma os planos das usinas, mas diz
que essa operação hoje não é possível, uma vez que a legislação teria de ser
modificada. Segundo ele, os investimentos para ter uma distribuidora não são
altos. "Precisa ter ativos no valor de R$ 1 milhão e ter tanque para
armazenar 750 mil litros do combustível."
O grupo paulista Cerradinho , com sede em
Catanduva, tem três postos de combustíveis em frente às suas três usinas. Uma
quarta unidade está em construção em Goiás. O investimento inclui também um
posto. José Fernandes Rio, diretor-administrativo e financeiro do grupo, diz
que a usina não tem uma distribuidora própria. "Fizemos um acordo com
uma distribuidora para que ela busque o álcool de nossas unidades e leve aos
postos."
Usinas e distribuidoras estão travando uma
batalha desde maio, início da safra 2007/08, por conta dos preços do álcool
ao consumidor. As usinas alegam que as cotações do combustível tiveram forte
recuo, mas a queda dos preços não foi repassada na mesma velocidade para o
varejo . Até uma comissão, coordenado pelo deputado federal Arnaldo Jardim
(PPS-SP), foi criada para discutir essa diferença de preços na Câmara dos
Deputados. Jardim defende a desconcentração da distribuição do álcool e a
criação de um marco regulatório para o setor.
Alísio Vaz, diretor do Sindicom (Sindicato das
Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes), diz que não vê
problema nas usinas como concorrentes. Mas defende que elas constituam novas
empresas. "Estamos estreitando nossas relações com as usinas",
afirma. Em janeiro, o Sindicom contratou o executivo Roberto Beck, ex-Shell,
para atuar como diretor de álcool, para fazer essa ponte.
Segundo o Sindicom, as sete distribuidoras
associadas ao Sindicom respondem por 35% da comercialização de álcool
hidratado no país e 75% do mercado de gasolina.
Também está em discussão a arrecadação de
impostos sobre o combustível. Na venda das usinas para as distribuidoras, são
recolhidos ICMS e PIS/Cofins de 3,65%. Na comercialização das distribuidoras
para os postos, são recolhidos ICMS e outros 3,65% de PIS/Cofins.
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Fonte: Valor
Econômico
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